Introdução aos Estudos Históricos

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O livro cujo título é dado por Introdução aos Estudos Históricos é uma obra que fora co-escrita por Charles Seignobos e Charles Victor Langlois, levando o título original de Introduction aux Études Historiques. O citado Charles Seignobos foi um historiador francês, especialista, sobretudo, na III República francesa. Ele exerceu função de docente na Universidade de Paris, além de escrever diversos trabalhos sobre a França, história européia e civilização. Além disso, suas publicações são usadas freqüentemente como manuais de história, na França. Ele tende, ainda, a enfatizar a história política, em detrimento dos processos sociais e econômicos, como, por exemplo, em sua obra Histoire Politique de l’Europe Contemporaine. Ressalta-se ainda que Seignobos foi mestre de Marc Bloch. Já Charles Victor Langlois recebeu titulação de doutorado em 1887, convertendo-se em professor da Universidade de Paris, no começo do século XX. Lá, lecionou sobre História da Idade Média, Paleografia e Bibliografia. Langlois é reconhecido, entre tudo, pelos seus estudos sobre o período medieval francês.
Assim sendo, o ponto de vista social dos autores em questão é dado por uma França marcada pelo período entre o fim do século XIX e o início do século XX. Esse contexto era, pois, constituído por um mundo marcado pelas disputas territoriais, que caracterizavam mercados consumidores dos produtos europeus. Nesse sentido, os autores têm intenções de discutir os aspectos por eles abordados com um público letrado, constituido por uma elite influenciada por aspectos do positivismo.
Dessa forma, Introdução aos Estudos Históricos, materializa a reafirmação de uma história política. Esses dois autores adotam, em adição, um viés positivista, característica intrínseca às suas respectivas formações. Com isso, o texto em análise é embasado por uma atribuição de fatores humanos, por meio de observações acerca dos estudos históricos, propriamente ditos, a fim de que seja comprovado o viés adotado pelos dois autores, que deixa de lado a idéia de uma abordagem carregada por metafísica ou teologia, tomando, em contrapartida, como base, o mundo material, ou físico.
A tese defendida por Seignobos e Langlois passa, então, pela defesa de que é papel do historiador reunir e dispor os documentos, de maneira a torná-los utilizáveis. Mais do que isso, faz-se uma discussão entre o debate sobre o estatuto científico ou não científico, quanto à sua denominação usual, da História. Nesse sentido, eles acreditam em uma afinidade entre a História e a Arte, indo, de certa forma, ao encontro do historiador holandês Johan Huizinga, que escrevia imerso nesse debate. Dessa maneira, os autores do texto em estudo pretendem não se limitar a uma crítica documental, passando por uma dita criatividade histórica. Mais ainda, eles atentam para a necessidade de observar os aspectos inerentes aos estudos da História, de forma que sejam analisadas separadamente suas partes, bem como, posteriormente, o conjunto delas.
Para tal, os autores organizam seus argumentos de forma a irem tecendo suas intenções de forma quase linear, falando como que em tópicos sobre pontos por eles defendidos, tais qual a idéia de que os citados grupos de fatos terem seu caráter traçado pelas fórmulas descritivas, de maneira geral. Mais ainda, é dada uma ênfase à forma com que são apresentadas as obras históricas, defendendo-se o ponto de que elas devem ser verdadeiramente racionais, o que aparentemente nos revela certa contradição quanto às tendências positivistas desses autores. Contudo, o modelo de abordagem serve, pois, de esqueleto para o que se pretende estudar. Com isso, a abordagem, propriamente dita, é que serve de objeto para o emprego da formação do historiador, por assim dizer.
Então, o texto organiza um tipo de discurso pautado pelo ensaio, uma vez que se trata de um estudo formal, bem desenvolvido, discursivo e concludente. Foi feita, além de tudo, uma exposição lógica com uma relevante explanação e julgamento pessoal. Fora feita, então, uma exposição de natureza metodológica acerca do que foi tratado, bem como a elucidação de um espírito crítico por parte dos autores.
Finalmente, devo ressaltar que, em meio a uma exposição, grosso modo, analítica acerca dos estudos da história, e levando em conta a forma como ela é organizada, a discussão proposta foi muito enviesada pela natureza positivista dos autores, uma vez que a abordagem feita por eles, em muitos momentos, acaba por deixar de lado o rigor crítico-racional, a favor de uma temática caracterizada pela falta de importância atribuída a discussões sobre a influência de fenômenos ditos sociais, tais como fenômenos econômicos, quanto ao embasamento do que por eles foi proposto.

(Arthur Meibak)