Nação e Civilização nos Trópicos: O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Projeto de uma História Nacional

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pode-se dizer que o autor em questão, Manoel Luis Salgado Guimarães, é considerado uma referência quanto aos estudos historiográficos no Brasil. Ele se graduou em História pela Universidade Federal Fluminense, além de possuir pós-graduações em instituições tais quais a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Freie Universität Berlin e École de Hautes Études em Sciences Sociales. Foi, durante muito tempo, professor adjunto da Universidade Federal Fluminense e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Sua especialização fica por conta da área da Teoria da Filosofia da História, com ênfase em Educação, História da Educação e Brasil-Império, campo pelo qual passa a análise do texto aqui em questão.
Com isso, o ponto de vista social do autor é dado, sobretudo, pelo Rio de Janeiro da segunda metade do século passado, além da primeira década desse século. Ressalta-se ainda, que ele faleceu no início deste ano. Então, em meio ao contexto de acirrada globalização, principalmente, quanto à transmissão de informação, Pode-se afirmar que ele está discutindo o tema proposto com um público caracterizado por acadêmicos brasileiros, por assim dizer. Pessoas que estudam questões referentes aos usos da História, bem como o debate acerca da natureza desse campo de análise.
Dessa maneira, seu objetivo é o de tratar da produção historiográfica no Brasil, bem como a definição a respeito do momento em que ela se intensificou, tornou-se de fato saliente. Mais do que isso, ressalta-se a marca elitista intrínseca a essa produção, herdeira de uma tradição iluminista, em um período relativamente extenso do século XIX. Em meio a esse cerne, é feita uma abordagem quanto à criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Tal projeto nasce em meio ao processo de criação do Estado Nacional, fato que mantém profundas relações com a proposta do citado instituto.
Nesse sentido, a tese defendida pelo autor é a de que havia em curso a discussão da questão nacional no Brasil, bem como o papel que a escrita da História desempenha nesse processo. Segundo ele, trata-se de precisar com clareza como esta historiografia deveria definir, grosso modo, a Nação brasileira, conferindo a ela uma identidade própria, capaz de atuar tanto em um contexto interno, quanto externo. Com isso, uma vez definida a citada Nação brasileira com bases na idéia de civilização no chamado Novo Mundo, há também uma definição acerca de quem seria excluído do referido processo, por não possuir a noção de civilização suposta, ou seja, índios e negros.
Assim sendo, o autor organiza seus argumentos no sentido de que ele prepara de forma introdutória a questão dos usos da História no sentido da formação de uma identidade Nacional no Brasil. Com isso, é analisada a mudança no comando do já citado IHGB, já que o Estado Imperial passou a exercer relevante influência sobre esse grupo, contribuindo com cerca de 80% do orçamento deste. Em adição, era pretendida uma argumentação científica, o que, de certa forma, alijava conhecimentos arqueológicos, lingüísticos e etnográficos, do processo em questão, uma vez que essa seria uma maneira de se ter influência de uma cultura “estranha”, a dos indígenas.
Complementarmente, ressalta-se que o texto cuja análise é feita é caracteristicamente histórico. Assim como Hegel e sua Filosofia da História, o autor aqui tratado volta de certa forma ao passado, com o intuito de justificar a evolução da realidade relativa ao mundo que ele traçou a priori, à formação do Estado Nacional brasileiro, levando em conta as ligações desse fato com a produção historiográfica no Brasil do século XIX.
Por fim, o texto estudado possui um viés pautado pela notada influência das elites nacionais quanto ao processo de formação de uma historiografia Nacional. Nesse sentido, a crítica é feita por conta de que as camadas populares cujos constituintes fazem parte do grupo considerado apto a ser o personagem da soberania, no que tange à personificação historiográfica brasileira, acabam sendo deixadas de lado, nesse processo. Isso se observa tanto como formadores desta historiografia, quanto atores que eventualmente deveriam ter suas ações contadas por meio dela.

(Arthur Meibak)

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